BRICS: O Brasil Não Pode Perder o Trem da História
O Brasil em uma encruzilhada geopolítica
De 22 a 24 de outubro, os olhos do mundo estão voltados para a Rússia, mas desta vez não por conta do conflito com a Ucrânia, e sim pela evolução do bloco econômico BRICS. Este grupo de países, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, tem como objetivo promover um mundo multipolar, com relações internacionais mais equilibradas e justas. No entanto, o Brasil, um dos membros fundadores, pode estar perdendo influência dentro do bloco. Á medida que Rússia e China ampliam suas parcerias globais, colocam o país em uma encruzilhada geopolítica. A politica brasileira deve acordar, pois o Brasil não pode perder o trem da História.
O crescimento da influência global de Rússia e China
O crescimento do BRICS nos últimos anos tem sido impulsionado, principalmente, pelas iniciativas diplomáticas de Moscou e Pequim. Esses dois países veem no bloco uma oportunidade de fortalecer suas economias e reduzir a influência dos Estados Unidos no cenário global. Um exemplo claro dessa expansão é a recente entrada do Irã no grupo. Apesar das sanções econômicas impostas por potências ocidentais, o Irã conseguiu, com o apoio de Rússia e China, reatar laços diplomáticos com antigos rivais, como a Arábia Saudita, através da mediação do BRICS. Este movimento reforça o papel do bloco como uma plataforma de negociação global, especialmente para países que buscam alternativas à hegemonia ocidental.
Venezuela e Nicarágua: uma queda de braços geopolítica
A 16ª Cúpula do BRICS, que acontece em Kazan, Rússia, traz à tona discussões sobre a possível inclusão de novos países no bloco, como Venezuela e Nicarágua. Esses dois países, que compartilham uma história de ideologias socialistas, estão em negociações para uma parceria privilegiada com o BRICS, o que lhes concederia direitos amplos de participação nas decisões do grupo. No entanto, a posição do Brasil em relação a esses países tem sido motivo de atrito.
Enquanto Rússia e China já reconheceram a reeleição de Nicolás Maduro na Venezuela, o Brasil tem se alinhado aos Estados Unidos e seus aliados, exigindo maior transparência nas eleições venezuelanas. A posição brasileira pode ser vista como uma tentativa de equilibrar sua atuação internacional, mantendo laços com o Ocidente e, ao mesmo tempo, com seus parceiros no BRICS. No entanto, essa postura ambígua pode enfraquecer a influência do Brasil dentro do bloco, especialmente à medida que Rússia e China consolidam suas parcerias estratégicas na América Latina.
A situação com a Nicarágua é ainda mais delicada. Em agosto de 2024, após críticas do presidente brasileiro ao governo nicaraguense pela prisão de religiosos católicos, as relações diplomáticas entre os dois países se deterioraram rapidamente. Esse conflito culminou na expulsão dos embaixadores de ambos os países, uma medida extrema no cenário diplomático. Esse desgaste nas relações entre o Brasil e seus antigos aliados na América Latina pode abrir espaço para que Rússia e China ampliem sua influência na região, justamente onde o Brasil deveria exercer um papel de liderança.
O Brasil pode estar perdendo força no BRICS?
No contexto do BRICS, o Brasil, que foi um dos visionários na criação do bloco e desempenhou um papel fundamental em suas primeiras iniciativas, parece estar perdendo força e relevância. O país, que tem buscado se posicionar como líder global na proteção ambiental, enfrenta críticas internacionais devido ao avanço do desmatamento e das queimadas na Amazônia. Essas questões ambientais, se não forem resolvidas, oferecem munição para países da aliança transatlântica atacarem a credibilidade do Brasil e, consequentemente, do BRICS.
Além disso, a polarização política interna do Brasil, com divisões profundas entre a direita e a esquerda, tem dificultado que o país adote uma postura mais firme e coesa no cenário internacional. Essa falta de unidade interna pode enfraquecer ainda mais a posição do Brasil dentro do BRICS, especialmente durante a 16ª Cúpula, onde as tentativas do governo brasileiro de bloquear a entrada de Venezuela e Nicarágua no bloco provavelmente serão frustradas pela força diplomática de Vladimir Putin e Xi Jinping.
O Brasil em busca de protagonismo
A Índia, outro membro de peso do BRICS, pode apoiar o Brasil em sua tentativa de barrar a expansão do grupo, mas é improvável que suas posições prevaleçam frente ao poder de influência de Rússia e China. Se o Brasil não conseguir se reposicionar com firmeza no BRICS, corre o risco de perder o protagonismo que uma vez teve, e com isso, perder também oportunidades de moldar positivamente o futuro das relações globais.
Espera-se que o Brasil, que não apenas deu a primeira letra do acrônimo BRICS, mas também emprestou sua força política ao bloco, seja capaz de retomar seu papel de liderança e fortalecer o grupo. Dessa forma, o país poderá continuar desempenhando um papel importante na construção de um cenário global mais equilibrado e multipolar, junto com seus parceiros estratégicos.
O texto muito bom! Parabéns👍